Primeira pessoa a ser curada do HIV Timothy Ray Brown

A aids foi identificada em 1981, mas ela é um bocado mais antiga. Ela surgiu a partir de um vírus chamado SIV, encontrado no sistema imunológico dos chimpanzés e do macaco-verde africano. Apesar de não deixar esses animais doentes, o SIV é um vírus altamente mutante, que teria dado origem ao HIV, o vírus da aids. O SIV presente no macaco-verde teria criado o HIV2, uma versão menos agressiva, que demora mais tempo para provocar a aids. Já os chimpanzés deram origem ao HIV1, a forma mais mortal do vírus. Acredita-se que a transmissão para o ser humano, tanto do HIV1 como do HIV2, aconteceu em tribos da África central que caçavam ou domesticavam chimpanzés e macacos-verdes. Não há consenso sobre a data das primeiras transmissões. O mais provável, porém, é que tenham acontecido por volta de 1930. Nas décadas de 60 e 70, durante as guerras de independência surgiram diversos casos de doenças que ninguém sabia explicar, com os pacientes geralmente apresentando sarcoma de Kaposi, um tipo de câncer, e pneumonia. Porem a aids só foi finalmente identificada em 1981. O primeiro caso comprovado de morte provocada pela aids é de um homem que morava em Kinshasa no ano de 1959, no antigo Congo Belga (hoje Congo). Isso, porém, só foi descoberto décadas depois, com um teste feito no sangue dele, que estava guardado congelado. Em 1981 a aids é reconhecida como doença. Surgem vários relatos de sintomas em homossexuais nos Estados Unidos. Também em 1981 morre o chamado "paciente zero" naquele país: um comissário de bordo que espalhou a doença em suas viagens Em 1983 pesquisadores isolam o vírus da aids pela primeira vez. Dois anos depois, aparece o teste que identifica a presença de anticorpos no sangue. O nome HIV, porém, só surge em 1986. A primeira droga para ajudar no tratamento da doença, o AZT, só é criada em 1987. No entanto, nenhum relato de cura até que o paciente de Berlim (Timothy Ray Brown) se tornou a primeira pessoa a ser curada do HIV. Apresentado por Ravindra Gupta (University College de Londres e Universidade de Cambridge, Reino Unido), o paciente de Londres, um homem com HIV, recebeu tratamento para doença maligna hematológica e após 18 meses sem terapia antirretroviral não tem vírus detectável. E o mundo todo imediatamente se apegou ao caso como uma causa célebre e claro com muita esperança. Outro caso de possível remissão a longo prazo foi relatado no CROI. O paciente de Düsseldorf também está livre de repercussão viral após um conjunto semelhante de circunstâncias clínicas, mas com apenas 3,5 meses de tratamento, Björn Jensen (Universidade de Düsseldorf, Alemanha) e seus colegas têm o cuidado de não fazer muito da afirmação. Apesar de boa notícia para os pacientes, os 12 anos desde a primeira cura confirmada e as circunstâncias que envolvem esses novos casos devem ser enfatizados para garantir que a mídia e o público entendam como é raro e difícil conseguir a remissão do HIV. Como Timothy Ray Brown, o Paciente de Londres era um homem em tratamento de doença maligna hematológica. Seu câncer não respondeu à quimioterapia ou à radioterapia e, como último recurso, o paciente foi identificado como candidato a transplante de células-tronco. No período que antecedeu o transplante, ele estava condicionado a eliminar suas próprias células imunes nativas. Talvez crucialmente, o doador identificado como uma correspondência imunológica para o paciente era homozigoto para a variante ?32 do CCR5gene - que codifica o receptor usado pelos tipos mais comuns de HIV para entrar nas células CD4. Após o transplante, como Timothy Ray Brown, a paciente teve um pequeno incidente de doença do enxerto contra o hospedeiro e a substituição completa do sistema imunológico do hospedeiro foi confirmada. Casos anteriores, como o bebê do Mississipi e os pacientes de Boston, mostram que o HIV pode se recuperar após ficar indetectável por longos períodos, e um acompanhamento prolongado com testes rigorosos e completos de amostras de múltiplos compartimentos é necessário para afirmar que o HIV está realmente extinto. Por isso, aos 3 meses e meio, os pesquisadores estão certos em ser cautelosos quanto à reivindicação de remissão a longo prazo para o paciente de Düsseldorf. O fato de os pacientes de Londres e Düsseldorf terem sido relatados ao mesmo tempo não é coincidência. Ambos os pacientes fazem parte do programa IciStem . Um projeto europeu colaborativo, IciStem, inclui uma coorte de doentes com doença maligna hematológica que receberam ou poderão receber transplante alogênico de células estaminais e identificou 22 000 potenciais doadores que são homozigóticos para o CCR5 ?32. Até agora, 39 pacientes registrados no IciStem receberam transplantes, e os pacientes de Londres e Düsseldorf são os únicos dois exemplos possíveis de cura relatados até agora, com vírus indetectável mantido durante um período substancial de interrupção do tratamento analítico monitorado de perto. Juntos, os poucos casos de curas para o HIV demonstram que o tratamento de último recurso - transplante de células tronco - que carrega seus próprios riscos substanciais e alta mortalidade, pode, em circunstâncias excepcionais para pacientes que de outra forma morreriam, levar a remissão do HIV. Mas há, sem dúvida, muito a aprender com as semelhanças entre os casos e com uma investigação mais aprofundada do transplante de células-tronco em pessoas vivendo com HIV. Entendendo os aspectos dos pacientes, os regimes de condicionamento e os transplantes necessários para a erradicação do vírus. A mensagem para os formuladores de políticas, financiadores, mídia e o público é clara: o HIV não é uma doença curável para ninguém, a não ser um número muito pequeno de pessoas em circunstâncias excepcionais. A busca por uma cura para todos continua e deve ser bem financiada, mas enquanto a cura não chega, os investimentos em medidas comprovadas de tratamento e prevenção são mais importantes do que nunca. Quem sabe quando o próximo caso de cura chegará?

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